O Teatro Inacabado

Un baú de influenzas...


Era um cavalo todo feito em chamas
alastrado de insânias esbraseadas;
pelas tardes sem tempo ele surgia
e lia a mesma página que eu lia.

Depois lambia os signos e assoprava
a luz intermitente, destronada,
então a escuridão cobria o rei
Nabucodonosor que eu ressonhei.

Bem se sabia que ele não sabia
a lembrança do sonho subsistido
e transformado em musas sublevadas.

Bem se sabia: a noite que o cobria
era a insânia do rei já transformado
no cavalo de fogo que o seguia.


                                                        Jorge de Lima

De sacrifício

De conhecimento

De carne machucada

Os joelhos dobrados

Frente ao Cristo

Meu canto compassado

De mulher-trovador.



Ai. Descuidado

Que palavras altas

Que montanha de mágoas

Que águas

De um venenoso lago

Tu derramaste

Nos meus ferimentos.



Que simetria, justeza

Para ferir-me a mim

Como se a cruz quisesse

De mim ser a morada.



E eu canto

Porque é esse o destino

De minha garganta.

E canto



Porque criança aprendi

Nas feiras: ave e mulher

Cantam melhor na cegueira.

Hilda Hilst

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